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Cidades Quarta-feira, 05 de Junho de 2024, 12:49 - A | A

Quarta-feira, 05 de Junho de 2024, 12h:49 - A | A

ESQUEMAS NA PCE

Advogada e repórter negociam silêncio para preservar "negócios" em presídio

Geandré Latorraca

Os altos muros e grades da Penitenciária Central do Estado (PCE) escondem uma trama obscura. A reportagem do jornal Estadão Mato Grosso teve acesso com exclusividade a um áudio em que uma advogada de Cuiabá negocia com um repórter de TV famoso para impedir a divulgação de conteúdos que possam comprometer um ex-diretor da Penitenciária Central do Estado (PCE). Na conversa, o repórter chega a pedir R$ 20 mil para “nunca mais mexer com a vida” do ex-diretor (ouça os áudios no final da matéria).

É a própria advogada quem revela o objetivo da conversa. Uma terceira pessoa deseja que o ex-diretor retorne ao cargo, do qual foi afastado sob acusações que nunca foram comprovadas. As acusações, diga-se de passagem, foram feitas pelo mesmo repórter que negocia o valor de seu silêncio.

“Deixa eu te falar, eu tô com um conhecido meu, que ele pediu para eu falar com você. Ele quer conversar com você, fazer uma proposta para você”, começa a advogada.

“Adoooooro”, responde o repórter.

“É daquele negócio da PCE lá. É que ele falou que suas reportagens tá (sic) atrapalhando o negócio dele e ele queria ver com você, porque diz que o homem vai voltar a trabalhar segunda-feira”, explica a advogada.

A conversa segue com os dois comentando sobre o afastamento do diretor e a possibilidade de que ele retorne ao cargo. A advogada afirma que outros servidores da PCE ‘têm rolo’ e que o retorno do diretor ajudaria a evitar ‘dores de cabeça’ para todos. Porém, ela afirma que qualquer reportagem negativa contra o ex-diretor poderia comprometer esse esquema.

“Eles não querem ter BO, porque todo mundo tem rolo lá”, afirma a advogada.

Inicialmente, o repórter orienta a advogada a pedir R$ 15 mil. “Aí eu derrubo tudo”, diz, antes de detalhar as matérias que já tinha produzido e aguardavam publicação.

Após mais algum tempo de conversa, o repórter sobe o valor para R$ 20 mil. A advogada então afirma que irá negociar com o ‘contratante’ e logo o repórter avisa que tem pressa para resolver a situação, “ainda hoje”.

 

 

TENTATIVA DE CENSURA

A reportagem do Estadão Mato Grosso procurou o repórter envolvido no áudio, que negou qualquer irregularidade. Ele sustentou que os fatos foram tirados de contexto para comprometê-lo e que a negociação seria referente a um processo no qual a advogada representava o ex-diretor de presídio, para que chegassem a um acordo.

Pouco tempo depois, a advogada enviou um e-mail à reportagem do Estadão Mato Grosso, ameaçando processar o jornal caso a reportagem fosse veiculada.

Apesar da ameaça, o Estadão Mato Grosso decidiu veicular a reportagem devido ao interesse público na informação. Porém, os nomes dos envolvidos foram omitidos para preservar suas identidades.

 
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